
No inicio, havia o Orkut e era bom.
Perfeito nunca foi. Longe disso, era um ambiente lotado de lixo por todos os lados (afinal, era frequentado por brasileiros), mas com tempo, paciência, e sabendo filtrar, era possível agregar novas amizades, conhecer gente interessante, e encontrar comunidades para discutir seus interesses sem precisar da dedicação xiita de uma lista de discussões.
Porém, como não podemos ter coisas legais, o comportamento de gafanhoto do brasileiro médio logo começou a se manifestar, e o Orkut começou a ser paulatinamente assassinado por spammers, guerras de ego, mendigos de scraps, gente que insistia em falar português (detonando o caráter internacional do serviço), miguxos, golpistas, e os bons e velhos trolls que, em pequeno número, conseguiam detonar comunidades inteiras.
O Facebook, substituto do Orkut, já de inicio, não foi tão legal assim. Pense nos mesmos problemas que ocorreram no Orkut, mas piorados por um ambiente de vazamento de dados, guerras ideológicas, e muita, mas muita autopromoção da própria imagem, projetando um estilo de vida “perfeito”. Todos felizes, bem realizados profissionalmente, carro do ano…
O Twitter, dizem que já foi legal, eu peguei o Twitter no final de 2015, quando já estava recebendo a leva de refugiados do Facebook e, posteriormente, do Tumblr, bem como as celebridades famosas (afinal, o Brasil é o único país do mundo que tem o conceito de celebridade não famosa) e aí, começa uma das tendências que transformou o Twitter pra pior pros frequentadores das antigas.
O selo de verificação do Twitter, que no inicio tinha apenas a finalidade de identificar que a arroba “João da Silva de Menezes da Cunha” era mesmo ligada ao CPF do “João da Silva de Menezes da Cunha”, passou a ter outros critérios de distribuição, passando a ser distribuída a contas “Notáveis” e “Ativas”. Aí aconteceu o seguinte : O tuiteiro médio começou a tuitar merda em cima de merda, pra gerar buzz e tornar a conta “notável”.

E a coisa ainda vai piorar, porque agora começaremos a falar sobre as fake news.
As fake news sempre existiram. Antes das redes sociais, elas pululavam pelas nossas caixas de e-mail, e antes dos e-mails e da internet, circulavam de boca em boca. Todo mundo se lembra do chip Mondex da besta, dos sons do inferno, da menina do corredor, da caneta espacial de 12 bilhões da NASA, da Xuxa ter um pacto com o Demo, e que o Bill Gates era a própria Besta do Apocalipse.
Porém, de uns anos pra cá, houve uma mudança nas características das fake news. Tudo começou quando um certo partido, acuado por denúncias de corrupção e de mau desempenho na economia, começou a pagar blogueiros, tuiteiros, e outros eiros, para espalhar mentiras ou meias verdades na internet, criando uma realidade alternativa para seus mínions, na qual o “mito” seria infalível, e tudo de ruim na economia seria culpa do congresso, do senado, do STF…
Esse partido, senhoras e senhores, era o PT.
Na maior prova da máxima “se não pode vencê-los, junte-se a eles”, a oposição do PT também começou a adotar a mesma tática.
Como resultado da produção, em escala industrial, do chorume, a política, que era apenas um dos assuntos abordados nas fake news, passou a ser o assunto principal. Todas as conspirações de aliens, demônios, fantasmas, etc. empalideceram.
A lacração identitária, por outro lado, atingiu níveis nunca dantes vistos, dada a tendência das correntes políticas de abraçarem o cidadão (que tem louça pra lavar de menos e tempo demais pra ficar choramingando na internet).
Corta pra 2018.
O PT tinha feito tanta cagada, mas tanta, que o eleitorado se dispunha a votar em qualquer mula, qualquer imbecil, qualquer retardado, qualquer apedeuta que não fosse o PT.
E votou.
Assim que colocou as patas no poder, Jair Bolsonaro resolveu repetir o mesmo esquema de blogueiro, tuiteiros, e outros eiros amiguinhos. Jairzinho nunca foi muito brilhante, mas o jogo do nós contra eles nunca exigiu lá muita inteligência, apenas contar a maior mentira possível, e xingar das piores coisas quem quer que resolva contar a verdade.
Corta para 2020.
Em 2020, temos a pandemia, do Coronavírus, ou Covid-19, ou Sars-Cov-2. Nessa pandemia, nosso querido presidente tomou um curso de ação, bem, nas palavras do André :
(…)quando viu que deu merda e a escalada de mortes ficou vertiginosa, foi retardado o suficiente em sua brutal arrogância em continuar a porra da narrativa maluca. Encheu o saco com a cloroquina, mas se conhecemos bem nossos políticos, quando se tem alguma dessas compras para lá de suspeitas, podem ter certeza que são mais que suspeitas, mesmo; e se houve recusa das vacinas da Pfizer, é porque não deve ter rolado o “faz-me rir”.
Desnecessário dizer que o séquito (ou o cercadinho) de blogueiros e tuiteiros puxa-sacos também abraçou a narrativa anticiência e antivacina do presidente. Desnecessário também dizer que foram desovar todo o entulho de mentiras, fontes esdrúxulas, e teorias conspiratórias no Twitter, transformando em um terreno fértil para mentiras uma rede social que era um terreno fértil para mentiras.
Nesse processo, foram ganhando seguidores, interações, e um monte desses imbecis ganhou verificado do Twitter. Até uma bosta de uma conta fake de um gato bolsonarista ganhou o verificado (se bem que devem ter se dado conta da merda que fizeram, e logo arrancaram o selinho)

Vendo isso acontecer, um monte de gente de esquerda descobriu que – OOOOOOHHHHHHH – fake news são ruins, e que – OOOOOOOHHHHHHHHHH – precisamos respeitar a ciência.
Subiram um monte de hashtags xingando o Twitter de fascista, e cobrando que colocasse mecanismos de denúncia (Aqueles botões que a galerinha do bem adora abusar para derrubar desafeto) contra as fake news, mas só as da Covid, afinal precisamos continuar postando que “Criado Mudo” era um escravo com a língua cortada.
O mesmo Twitter que, meses atrás estavam comemorando que tinha limado a conta do laranjão, enquanto que a galera do lado Bolsonarista da força rasgava as pregas dizendo que o Twitter era comunista de esquerda. Afinal de chupador de bolas de parasita, só o que muda é a mosca, porque é tudo a mesma merda.
Fonte : Metropoles
3 thoughts on “Tuiteiros querem o fim das fake news. Mas só as que ELES não gostam”